sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Deborah Colker estréia ‘Cruel’

crédito: Flávio Colker

Marcela Benvegnu

“Cruel”, o nono espetáculo da Companhia de Dança Deborah Colker, segue seu próprio caminho, parte de uma história em pleno curso. No trabalho, Deborah Colker propõe um enigma: uma série aberta de elementos narrativos que só se completa com o olhar do espectador. Corpos em movimento que exigem a decifração, um novo jogo entre o acaso e a necessidade. Histórias ordinárias, daquelas que se repetem invariavelmente na vida das pessoas, e que envolvem amores, amantes, família, laços que atam e desatam. Histórias quase sempre cruéis, que podem ser vistas em cena a partir do dia 12 de setembro, no Teatro Alfa, em São Paulo.

“As histórias estão ali para serem apreendidas por cada um de um modo bem particular”, fala Deborah. É nos movimentos e na expressão dos 17 bailarinos da companhia que o grupo lança as peças do jogo, sem qualquer compromisso com a explicitação do sentido, mas sim com a exigência de sua produção. Mas está tudo na cena. Com o auxílio do diretor de teatro Gilberto Gawronski, os movimentos expressivos ganharam forma e intensidade.

O espetáculo se desenvolve em quatro principais momentos. No primeiro deles, há a preparação para um baile, com gestuais, situações e objetos da experiência cotidiana. Em seguida, um grande lustre redondo e rendado ocupa o centro do palco, e ao som Vivaldi, de Nelson Gonçalves ou mesmo das palavras leves e roucas de Julie London, a cena transcorre, em clima de reminiscências, o grande baile, com pas-de-deux, movimentos líricos e a lembrança viva dos romances nos grandes salões.

Aos poucos, pequenas transformações de climas e intensidades denunciam o curso do tempo. Toma lugar em cena uma grande mesa móvel. É em torno dela que se desenvolvem as relações familiares, os encontros e desencontros que marcam as mutações dos afetos. Com esse grande objeto em cena, Deborah mantém evidente uma constante em seu trabalho: a relação primordial entre espaço — e a interferência no espaço — e movimento. “É sempre o espaço que propõe para mim uma nova relação com os movimentos”, diz Deborah.

No segundo ato de “Cruel”, um jogo de grandes espelhos que se movimentam empresta um tom surrealista ao espetáculo. Fragmentos dos corpos atravessam as estruturas, pessoas se entremeiam e se confundem. Nesse cenário de reflexos e luzes, cada um está mais só e experimentando o acúmulo de suas histórias pessoais. “Em frente ao espelho é só você. E sua história se reflete na sua própria imagem”, enfatiza a coreógrafa. Sua nova aposta está no encontro entre o violento e o amoroso, o cruel e o sensível. Esse é também o encontro entre o lúdico e o trágico, o romance e a dor. O encontro entre pessoas.
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PARA VER — “Cruel”, com a Cia. de Dança Deborah Colker, no Teatro Alfa (rua Bento Branco de Andrade Filho, 722), em São Paulo. De 12 a 14 e 17 a 21 de setembro (quarta, quinta, sexta e sábado, às 21h e domingo, às 18h). Ingressos custam de R$ 40 a R$ 90. Data, local e horário foram enviados pelos

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